Década trouxe à tona a preocupação com o aquecimento global

No que se refere às questões ambientais e, em especial, ao aquecimento global, a primeira década do século 21 se encerra com uma certeza: generalizou-se a percepção sobre o problema e sobre a necessidade de se fazer algo para resolvê-lo. O que era uma preocupação de grupos restritos agora atinge setores majoritários da sociedade na maior parte das nações do mundo.
Uma vez que os problemas ambientais são conhecidos desde os anos 1980, é o caso de se perguntar por que nesta década em especial se desenvolveu a tal ponto a consciência geral acerca do tema. Por que estamos todos preocupados com o aquecimento global? Com certeza, a resposta a essa questão é um conjunto que inclui mais de um elemento e passá-los em revista não deixa de ser uma forma de fazer um balanço da década em relação à ecologia.

Em primeiro lugar, não há dúvida de que uma das consequências do aquecimento global – as mudanças climáticas – se tornaram mais perceptíveis do que nunca nos últimos dez anos. No Brasil, por exemplo, já em 2004, o Catarina, um ciclone tropical com ventos de até 140 km, varreu o litoral, na dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deixando claro que não estávamos imunes a esse tipo de fenômeno como pensávamos.

Tempestades e furacões
Quatro anos depois, outro ciclone atingiu os mesmos Estados e, antes que 2008 terminasse, em apenas dois dias de novembro, choveu no litoral de Santa Catarina o equivalente às médias históricas do mês, o que resultou em mortes e milhares de desabrigados. As chuvas torrenciais também marcaram 2010, provocando destruição nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Alagoas e Pernambuco.

Tragédias de maiores proporções, acontecidas em outras partes do mundo, também colaboraram para difundir a consciência sobre a gravidade do problema do aquecimento global, embora não se saiba ao certo até que ponto haja uma relação de causa e efeito entre eles. Em 2004, um forte terremoto submarino no Oceano Índico provocou ondas gigantes que tingiram oito países asiáticos e cinco africanos.

No ano seguinte, o furacão Katrina deixou 80% da cidade de Nova Orleans debaixo de água, embora o problema tenha assumido tais proporções não devido à intensidade do furacão propriamente dito, mas da falha dos sistemas de proteção contra enchentes. De qualquer modo, não se pode esquecer que a temporada de furacões no Caribe tem sido mais violenta que nos anos anteriores.

Previsões e denúncias

Além da intensidade dos fenômenos naturais, no entanto, deve-se ressaltar a ênfase com que os ambientalistas focalizaram o aquecimento global e as mudanças climáticas nos últimos anos, quando se quer entender porque esses assuntos entraram na ordem do dia para a maioria do público.

Nesse sentido, é importante mencionar duas obras de grande impacto junto à opinião pública: o documentário "Uma verdade inconveniente", de 2006, sobre a campanha de conscientização promovida pelo ex-presidente norte-americano Al Gore, bem como pelas previsões dos relatórios do IPCC, de 2007.

Sem retirar os méritos do documentário e dos relatórios – cujo autores foram agraciados com o Nobel da Paz –, não se pode deixar de mencionar que a credibilidade, em especial a do IPCC, foi abalada por denúncias graves na virada de 2009 para 2010, quando hackers divulgaram e-mails de cientistas ligados ao Painel e mostraram que eles distorceram dados para comprovar a tese de que a ação do homem é o principal fator do aquecimento global, além de boicotarem os cientistas que deles discordassem.

No tocante à manipulação de fatos científicos, a falsificação mais grave relaciona–se à previsão do desaparecimento precoce das geleiras do Himalaia até o ano de 2035, que teria beneficiado o climatologista indiano Rajendra Pachauri, presidente do IPCC. Apesar das pressões, ele não renunciou ao cargo. Algumas investigações inocentaram os cientistas ligados ao "Climagate", mas ainda é difícil avaliar o impacto que o escândalo teve na credibilidade do Painel.

Conhecimento científico

Desde que a polêmica sobre as relações entre as atividades humanas e o aquecimento global é intensa e levando em conta os interesses políticos, ideológicos e econômicos envolvidos na questão, é importante deixar à disposição dos leitores um sumário do que realmente a ciência considera estabelecido como fato.

A Royal Society de Londres, prestigiosa sociedade científica britânica, fundada no século 17, e que chegou a ser presidida por Isaac Newton, encarregou-se fazê-lo e publicá-lo em setembro deste ano, que pode ser lido em Inglês aqui. O sumário da Royal Society nega terminantemente o caráter científico das previsões catastrofistas: "Não é possível determinar exatamente [com os conhecimentos disponíveis hoje em dia] quanto a Terra vai aquecer ou como o clima vai mudar no futuro".

Reuniões de cúpula

As conferências internacionais, mobilizando em especial chefes de Estado, também deram sua contribuição para o aumento da consciência ecológica ao longo da década. Duas, em particular, devem ser mencionadas. Pela amplitude, vale citar a Rio + 10, que ocorreu em Johanesburgo, na África do Sul, em 2002, que procurou criar condições para pôr em prática a Agenda 21, o documento firmado na ECO 92, dez anos antes.

Além dela, não se pode deixar de mencionar a COP-15, que se realizou em Copenhague, Dinamarca, em 2009, que produziu somente um acordo genérico sobre a emissão dos gases causadores do efeito estufa. Já o Brasil assumiu voluntariamente o compromisso de reduzir de 36% a 39% da emissão de gases estufa até 2020.

Do Brasil para o mundo, a senadora Marina Silva também contribuiu como ninguém para a difusão das questões ambientais, por seu carisma e pela sua surpreendente biografia. Na década que se encerra, Marina – apontada pelo jornal britânico "Guardian" como uma das "50 pessoas que podem salvar o planeta" – ganhou o primeiro plano no noticiário internacional ao assumir o Ministério do Meio Ambiente (2003) e ao demitir-se dele (2008), bem como por seu desempenho como candidata a presidente da República em 2010.

Fonte: UOL

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