CARIRI Feiras perdem movimentação

Comerciantes do Cariri reclamam que as feiras já não recebem tantos clientes como em décadas passadas



Na feira semanal do Município do Crato está cada vez mais difícil, segundo os comerciantes, ver grande quantidade de compradores. Parece mais um camelódromo

Crato Aos poucos, sem que a maioria das pessoas perceba, as feiras semanais estão sendo esvaziadas, ou melhor, estilizadas. Os feirantes estão sendo empurrados para a periferia das cidades. Em Juazeiro do Norte, maior centro comercial do interior, a feira se espalhou pelos bairros. No Crato, a feira que antes ocupava as principais ruas da cidade, foi concentrada na margem do canal do Rio Granjeiro. Barba lha e Brejo Santo mantém uma feira diária, sem as características das feiras de antigamente. É muito mais um camelódromo do que uma feira.


Nas cidades menores como Jardim, Porteiras, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Jati e Penaforte, as feiras se mantêm num dia determinado da semana, geralmente, no sábado, no domingo ou na segunda. Mesmo assim, a movimentação é cada vez menor. A exceção é o Município de Jardim que reúne feirantes do vizinho Estado de Pernambuco. São os últimos redutos de uma tradição que funciona como palco, vitrine e picadeiro dos valores nordestinos.
A feira é o local de encontro, economia e negócios dos feirantes do Município e região. Lá se encontra de tudo, desde a rapadura feita artesanalmente até aves, animais, frutas e raízes medicinais, além dos mais prestigiosos e saudáveis cantinhos como bares e lanchonetes onde o povo aproveita para se divertir e botar o papo em dia.
É sempre um dia de festa para os moradores da zona rural que vestem a melhor roupa, vão ao barbeiro, fazem com- pras de muitas mercadorias e encontram parente e amigos que moram distantes. É festa interiorana por excelência que promove a integração dos moradores do campo e da cidade.
O médico e historiador Napoleão Tavares Neves compara a feira como um grande Shopping Center Popular, a céu aberto do povo nordestino. Tem até praça de alimentação com comidas regionais como sarapatel de boi e porco, bode assado, buchada, galinha caipira, panelada e caldo de mocotó.
A feira é o palco democrático da expressão viva e espontânea da cultura popular genuinamente nordestina, com seus sanfoneiros, emboladores, repentistas, escritores da literatura de cordel, poetas e artesãos e, principalmente, o balcão de negócios dos produtores rurais.
O advogado Emerson Monteiro destaca que a feira é a resposta mais eloquente contra a parafernália de máquinas que transforma o consumidor numa peça dessa engrenagem tecnológica. Na feira, consumidor e vendedor trocam ideias, olhando olho no olho, experimentando a qualidade da mercadoria, que é paga com dinheiro contatado no meio da feira.
Lamentação
Com 46 anos de feira, vendendo farinha e goma, o feirante Benício de Oliveira anunciou que vai deixar o local no Crato. "Não vale à pena a gente se deslocar do sítio para negociar na cidade. Hoje, tudo que é vendido na feira, tem nas bodegas dos sítios". A grande vantagem, segundo Benício, é que o bodegueiro vende a prazo, enquanto o feirante não tem crediário. Benício adverte que a cada dia a feira semanal do Crato está sendo esvaziada.
A mesma lamentação é feita por José Cláudio da Silva que começou vendendo baladeira na feira do Crato. Hoje, com banca de produtos variados, Cláudio reclama dos lucros e da concorrência, lembrando que hoje toda esquina tem os mesmos produtos que ele vende.
O tocador de pífano, Raimundo Aniceto, que há mais de 30 anos vende farinha na feira do Crato, diz que, apesar das reclamações dos companheiros, a feira é mais do que um ponto de venda. É um local de encontro. "Aqui, a gente revê os camaradas, os amigos, troca ideias". A feira, segundo Aniceto, "é um grande supermercado onde a gente encontra tudo".
Ali se encontra praticamente de tudo: roupas, utensílios domésticos, alimentos, material para o trabalho no campo, animais, ervas medicinais, móveis, ferragens, brinquedos, artesanatos e diversos outros produtos. Há também regulamento, líder de setores, normas e padrões a serem seguidos.
Escambo
Do povoado de Jamacaru ainda é praticada uma das mais antigas formas de compra e venda. É o escambo que consiste na troca de uma mercadoria por outra, sem o envolvimento de dinheiro. Em Jamacaru, este mercado é feito com animais.
Na história do Brasil, o escambo tem papel importante na exploração da mão-de-obra indígena pelos colonizadores, por meio de trocas de objetos de pouco valor para estes, entretanto, com grande apreço por parte dos índios. Pode ser citado, por exemplo, o escambo de espelhos, escovas e colheres que era feito por trabalho.
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Importância
"Feira é mais do que um ponto de venda. É um local de encontro. Aqui a gente revê os camaradas, os amigos, troca ideias" Raimundo Aniceto, Feirante
"Não vale à pena a gente se deslocar do sítio para negociar na cidade. Hoje, tudo que é vendido na feira tem nas bodegas" Francisco Benício, Feirante

Antônio Vicelmo


Repórter

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