PM orientavam criminosos de dentro da viatura


FELIPE TAU
Policiais militares em serviço utilizavam viaturas da corporação para dar cobertura a criminosos que explodiam e roubavam caixas eletrônicos em São Paulo. Dos carros oficiais, monitoravam a movimentação de outras unidades da PM por meio dos radiocomunicadores. A informação foi dada nesta terça-feira pelo Departamento de Investigações Sobre Crime Organizado (Deic), após a prisão de quatro PMs, um ex-PM – expulso por brigar com outros policiais no trânsito – e mais dois suspeitos de pertencerem a uma das quadrilhas responsáveis pela onda de ataques na Grande São Paulo. Com a ação são sete o total de policias militares presos desde o fim de semana. Três, do mesmo bando, foram detidos no sábado.
Os PMs acompanhavam a movimentação de outras viaturas via rádio e avisavam os bandidos para fugirem. Em outros casos, despistavam policiais que se aproximavam para fazer o patrulhamento. Durante a investigação foram feitos grampos de conversas telefônicas com autorização da Justiça. “Meu, você não acredita. Acendeu! Vai explodir”, é o trecho de uma gravação de conversa através de celular entre um PM, de dentro da viatura, e um comparsa que estava perto do caixa que seria arrombado.
Na operação, chamada Caixa Preta, foram presos quatro suspeitos na capital e três na Grande São Paulo: Diadema, São Bernardo do Campo e Taboão da Serra. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão.
André Luis Leite, de 41 anos, é apontado como o líder da quadrilha e o responsável por aliciar policias. O soldado João Paulo Victoriano de Oliveira, de 31 anos, por sua vez, seria o coordenador das ações na zona sul da cidade. De acordo com a Polícia Civil, o grupo está envolvido em pelo menos mais sete crimes. Entre os de maior repercussão estão dois ataques a caixas eletrônicos, em abril. O primeiro ocorreu na Avenida do Cursino, e deixou um policial morto. O segundo foi no Ipê Clube, no Ibirapuera. A ação deixou três mortos.
Entre os detidos, há dois sargentos e dois soldados. Dois deles atuam no Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran). Outros dois atuam no 46º e no 1º batalhões. O policial afastado foi expulso da corporação no começo do ano.
As prisões foram feitas por 60 homens da Delegacia de Repressão a Roubos, do Garra e do setor de inteligência da Polícia Civil. Eles partiram do Deic às 6 horas e concluíram o trabalho no início da tarde. Foram recolhidos celulares, rádios, armas de brinquedo – usadas para treinamento – e um Chrysler 300C, que custa entre R$ 185 e R$ 245 mil.
Segundo o diretor do Deic, delegado Nelson Silveira Guimarães, as investigações começaram há dois meses e meio e apontam a existência de quatro quadrilhas, todas com relações entre si. “Isso é só a ponta do iceberg”, disse o delegado em entrevista coletiva após a operação. Ele não quis informar o total de policiais investigados e negou a presença de policias civis na lista.
Os PMs detidos deixaram a sede do Deic às 18h e foram levados ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito. Eles tiveram prisão temporária decretada e ficarão no Presídio Romão Gomes.

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