Células-tronco são ferramentas eficazes no tratamento de angina refratária
O cirurgião cardíacobrasileiro e diretor-médico da empresa CellPraxis, Nelson Hossne apresentou os resultados da pesquisa que comprova a eficácia da terapia com células-tronco para pacientes com angina refratária no Congresso Internacional de Insuficiência Coronariana, que ocorreu em Veneza.
O estudo realizado por uma equipe de cientistas brasileiros, liderada pelo Dr. Hossne, sob a orientação do Prof. Dr. Enio Buffolo, comprova que o tratamento com células-tronco é capaz de melhorar os sintomas da doença que, até hoje, não tinha opção terapêutica eficaz. A pesquisa, já publicada no periódico “Cell Transplantation”, é uma cooperação científica entre a UniversidadeFederal de São Paulo, a empresa Cryopraxis e a sua subsidiária CellPraxis, com foco em desenvolvimento de produtos para terapia celular.
A angina, que pode ser classificada de 1 a 4, ocorre quando há alguma obstrução nas coronárias e o músculo cardíaco deixa de receber a quantidade necessária de sangue. Isso provoca cansaço extremo, limitações físicas e intensa dor no peito. A do tipo 4 é a mais severa e o paciente não consegue fazer nenhum tipo de atividade sem dor intensa e incapacitante. Estes pacientes são submetidos à cirurgia e a medicamentos de ultima geração. No entanto, há aqueles para os quais nenhuma cirurgia ou medicamento é capaz de aliviar os sintomas: são os casos de angina refratária.
Se, por um lado, muitos trabalhos mostram que é difícil regenerar o músculo cardíaco, por outro, o estudo reforça a ideia de que é possível criar vasos sanguíneos. As células-tronco podem induzir a angiogênese, que é a formação desses vasos, embora ainda não se conheça o mecanismo exato que leva a isso. “Uma das hipóteses é que a presença das células-tronco amplifique a resposta de outras células que estão lá encarregadas dessa função”, diz Dr. Hossne, investigador principal pesquisa. “Os pacientes de angina refratária já passaram por todos os tratamentos e não há mais o que oferecer. Muitos já foram submetidos a várias cirurgias e cateterismos, mas continuam sentindo dores”, diz.
No procedimento, os médicos retiram células-tronco adultas do próprio paciente, presentes na medula óssea, no osso da bacia, o que elimina o risco de rejeição. Uma formulação contendo estas células é preparada e, em seguida, injetada diretamente nas áreas afetadas do músculo cardíaco, por meio de um pequeno corte de dez centímetros.
Desde 2005, os pesquisadores vêm avaliando um grupo de 20 pacientes com idades entre 53 e 79 anos que sofriam de angina refratária e não tinham mais opções cirúrgicas nem respondiam ao tratamento clínico. Eles receberam a terapia com células-tronco e, em 80% dos casos, houve normalização do fluxo sanguíneo na área afetada. Metade dos pacientes deixou de sentir dor. Os demais apresentaram poucos episódios de sofrimento e, ainda assim, apenas quando realizam esforços físicos intensos. Cerca de 90% deles retomaram as atividades normais quatro meses após a cirurgia. Os cientistas afirmam que o alívio dos sintomas foi progressivo, sugerindo que não se trata de um efeito transitório. A melhora dos voluntários apareceu, em média, três meses após a cirurgia e continuou progredindo após um ano. Os pacientes foram avaliados clinicamente e por exames de imagem.
Jornal do Brasil
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