processo de reabilitação Vaticano mantém silêncio sobre reabilitação do Pe. Cícero


Dom Panico entregou, no dia 30 de maio de 2006, uma
 exposição de motivos de 16 páginas em defesa do "Padim"

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Crato Cinco anos de silêncio. Nem mesmo, este ano,
quando Juazeiro do Norte comemora o seu centenário
 de independência política, o Vaticano libera informações
 sobre o andamento do pedido de reabilitação do Padre
Cícero. Os documentos foram entregues ao cardeal
 Josef William Levado, prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, no dia 30 de maio de 2006.
O Diário do Nordeste acompanhou, com
exclusividade, a viagem dos cearenses.

Duas comitivas de cerca de 50 pessoas, entre elas o
 então governador do Ceará, Lúcio Alcântara, o arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Aparecido Tosi, e o bispo do Crato, Fernando Pânico, estiveram
no Vaticano. O diretor do Departamento Histórico
 Diocesano, padre Francisco Roserlândio, que centraliza
 todas as informações sobre o processo de reabilitação,
disse não haver nenhum retorno sobre o processo que
 pede a reabilitação do Padre Cícero. O bispo da
 Diocese de Crato, dom Fernando Panico, que
esteve recentemente na Itália, também não tem
 nenhuma resposta sobre o processo.

Para o presidente da Comissão do Centenário de Juazeiro,
 Geraldo Menezes Barbosa, essa demora já era esperada.
 "Existem processos no Vaticano com mais de 400 anos.
 Mesmo assim, depois de 100 anos de luta, os romeiros
 têm a esperança de que, pelo menos, o Padre Cícero
 seja reabilitado", afirma.

Revisão
Além da documentação, a comitiva levou uma abaixoassinado
 com documento subscrito por cerca de 270 bispos brasileiros,
 que estavam reunidos em São Paulo, pedindo a revisão
 histórica e eclesial do caso. O mais importante dos
documentos entregues ao Vaticano foi uma petição
 assinada por dom Fernando Pânico, que começa
 como uma súplica: "Venho, com toda esperança e
 humildade, suplicar à Vossa Santidade que se digne
 reabilitar canonicamente o Padre Cícero Romão
Baptista, libertando-o de qualquer sombra e resquício
 das acusações por ele sofridas". Numa exposição
de motivos de 16 páginas, o bispo explica que "o
 ponto de partida foi um pedido do então cardeal
 Josef Ratzinger, hoje papa Bento XVI, para que o
 processo fosse reaberto e estudado".

Com a reabilitação, a Igreja Católica está tentando corrigir
um eventual erro do Vaticano ocorrido em 1892, quando o
 Padre Cícero foi proibido de rezar missas, pregar aos fiéis,
confessar e ministrar sacramentos. A punição foi contra suposto
 "milagre", protagonizado quando a hóstia consagrada por ele
teria se transformado em sangue na boca da beata Maria
de Araujo. O fenômeno deu origem a um processo que
 terminou com a suspensão das ordens sacerdotais do
Padre Cícero Romão. Ele foi forçado a se exilar na cidade
pernambucana de Salgueiro, uma vez que pairava a ameaça
de excomunhão caso não deixasse definitivamente o Juazeiro.

Recorrendo-se do direito canônico, que lhe permitia falar com
o então Papa Leão XIII, o Padre Cícero viaja a Roma e lá
permanece oito meses. Julgado, recebe uma autorização de
 pregar e voltar a Juazeiro. Volta vitorioso, mas de modo
 incompleto. Ele tenta ainda muitas vezes recuperar suas
ordens, mas nunca obtém êxito.

Cem anos depois, a Igreja Católica corre atrás do prejuízo,
ou tenta perdoar o padre que a própria instituição condenou.
 Mesmo sem ser reabilitado, o Padre Cícero arrasta para
Juazeiro cerca de dois milhões de romeiros por ano,
 um contingente de devotos que vem sendo disputado
 por outras igrejas evangélicas.

Para a Igreja Católica Apostólica Brasileira (Icab), uma
dissidência da Igreja Católica Apostólica Romana, Padre
Cícero já é santo desde 1973, com direito a andor,
 procissão e novenas. O dia de São Cícero é comemorado
 na data da sua morte, 20 de julho. A canonização
foi idealizada pelo primeiro bispo de Maceió (AL),
dom Wanillo Galvão Barros, que já observava a devoção
 do povo nordestino. Na época, os bispos consagraram
São Cícero do Juazeiro.

Antônio VicelmoRepórter

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