Médicos do SUS suspendem atendimento por 24 horas

Os setores de urgência e emergência foram os únicos não afetados; 21 Estados do País participaram do protesto

Às 11 horas da manhã de ontem, o ambulatório do Hospital Albert Sabin estava praticamente vazio. As poucas pessoas que chegavam ouviam logo na recepção que todas as consultas e procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) teriam de ser remarcados. A unidade de saúde foi uma das que aderiu à paralisação nacional dos médicos do SUS durante toda a terça-feira. Os atendimentos foram suspensos durante 24 horas em 21 Estados do Brasil, dentre eles o Ceará. Apenas os setores de urgência e emergência não foram afetados.
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Uma dona de casa que não quis se identificar chegou cedo ao Hospital Albert Sabin para a consulta de acompanhamento da filha mais velha, que havia marcado há quatro meses. Quando chegou, se deparou com a notícia de que nenhum médico do ambulatório da unidade faria atendimento devido à paralisação. "Vou esperar até março para uma nova consulta. Ainda bem que é só acompanhamento, não é nada grave. Mas é um transtorno você sair da sua casa, chegar cedo, para não ser atendido", disse.
Durante toda a manhã, apenas uma médica ficou no hospital para atender somente a casos mais graves e que não poderiam esperar pela remarcação. Segundo a assessoria do Albert Sabin, somente as consultas foram suspensas. As cirurgias eletivas marcadas para o dia aconteceram normalmente. A assessoria informou ainda que o hospital não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a paralisação, mas que os médicos que compareçam pela manhã logo aderiram à greve e que todas as consultas adiadas ontem foram remarcadas sem transtornos.

Resultados

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec), José Maria Melo, embora ainda não seja possível contabilizar quantos profissionais aderiram à paralisação dos médicos do SUS no Ceará, o resultado da ação foi positiva.

Para ele, a suspensão não trouxe mais prejuízos à população além dos que a própria defasagem do SUS têm causado. "Nós só paramos um dia. Mas todo dia morre gente em fila de hospital pelas condições precárias de saúde", afirma.

O objetivo da paralisação era protestar contra as baixas remunerações e más condições de trabalho na rede pública, além da falta de recursos destinados ao SUS. A reivindicação salarial da categoria na Capital já é negociada com a Prefeitura. Uma nova reunião dos representantes dos dois setores deverá ocorrer no início de novembro.

A paralisação nacional foi coordenada pela Comissão Pró-SUS, composta por representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Médica Brasileira (AMB) e da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Ainda ontem, foi realizada uma sessão solene na Assembleia Legislativa do Ceará em homenagem aos 70 anos do Sindicato dos Médicos do Ceará.

Longa espera

No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o cenário foi diferente do observado no Hospital Albert Sabin. Os serviços do ambulatório da unidade funcionaram normalmente e nenhum procedimento foi desmarcado. Filas e muita espera marcaram o dia na unidade.

Segundo o médico clínico do HGF, Sérgio Liebmann, profissionais da unidade não atendem pelo SUS, por isso não suspenderam o atendimento. "Eles atendem pelo Ministério da Saúde, pelo Município e pelo Estado. Não tem motivo para pararmos", explica. Ao contrário do Albert Sabin, apenas as cirurgias eletivas estão suspensas desde a semana passada no HGF, porém, os serviços de urgência e emergência funcionam normalmente.

Liebmann afirma ainda que, por conta da grande demanda, a demora para marcar procedimentos e ser atendido pode ser longa. "Era preciso que as redes primárias e secundárias da saúde funcionassem de forma adequada. Temos uma demanda enorme, não temos condição de atender a todos. Você vê vans trazendo gente de outros municípios para ser atendida aqui todo dia. Vem gente de todo o Estado. Fica difícil", relata.

A cabeleireira Rita de Cássia Castro Silva esperava há quase duas horas para ser atendida em sua consulta de retorno após 15 dias de uma cirurgia. "Estou recém-operada, ainda sinto dor. É muito desconfortável ficar tanto tempo sentada", reclamou.

Dentistas

Os dentistas da rede municipal de Fortaleza também fizeram uma manifestação ontem, Dia do Dentista. Eles se vestiram de preto e afirmaram que a saúde está de luto na Capital. A categoria está de greve há seis dias, e realiza apenas procedimentos urgentes ou emergentes.

Os dentistas pedem gratificações dos planos de cargos e carreiras e melhores condições de trabalho.

REGINA PAZ
ESPECIAL PARA CIDADE

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