Brasil precisa parar de insultar investidores estrangeiros, diz economista de fundo inglês


A presidente Dilma Rousseff quer mais investimentos no Brasil. Preocupada com a lentidão da economia do país, a presidente convoca ministros para encontrarem formas de gastar mais e discursa defendendo o país como uma ilha de prosperidade e segurança.
Na prática, lá no fundo, nas estatísticas nacionais, a disposição de investir no Brasil não mudou nem cresceu nos últimos dez anos. Mesmo com toda a melhora nos fundamentos da nossa economia, na percepção dos investidores e na quantidade de dinheiro que eles trouxeram para cá, a taxa média de investimento no país de 2003 até hoje está em cerca de 17% ao ano.
Com essa taxa não conseguimos crescer mais do que 4% sem gerar inflação. Pelo cálculo de consenso entre economistas brasileiros, para crescermos mais sem pressão nos preços, deveríamos alcançar 22% de investimentos em proporção ao nosso PIB. Poucas vezes na história recente chegamos perto de 20%. Segundo o IBGE, no primeiro trimestre deste ano a taxa ficou em 18,4%.
“O Brasil precisa de 1 trilhão de dólares de investimentos em infraestrutura. E onde ele vai achar esse dinheiro? Ele pode vir de investidores domésticos, mas a maioria deve vir de estrangeiros. Parem de fingir que vocês não querem esse dinheiro. O Brasil tem capacidade de crescer muito mais, mas não insultando o investidor estrangeiro dizendo que são especuladores, falando de guerra cambial”, diz o economista Jerome Booth, chefe de pesquisa do fundo de investimentos Ashmore, focado em mercados emergentes.
Em entrevista ao G1, o economista, que trabalha na sede da Ashmore em Londres, faz um alerta sobre os arranhões na credibilidade do Brasil, sofridos depois das decisões recentes do governo de taxar investimentos estrangeiros e intervir na taxa de câmbio para depreciar o real.
“Parem de brincar com as expectativas do mercado com os novos impostos (IOF), dêem as boas vindas aos investidores estrangeiros e usem esse dinheiro para investir na infraestrutura. Parem de culpar seus problemas em outros países. Esse é  um problema de credibilidade do Brasil. O governo precisa parecer ‘querer” tomar as decisões difíceis agora para chegar a um crescimento de 7% sustentável. Você não vai conseguir isso culpando seus problemas nos Estados Unidos ou na liquidez internacional e fechar as portas para o mundo”, diz Jerome Booth.
O executivo brasileiro de uma grande empresa nacional de commodities, que está sempre em contato com investidores, corrobora o que diz o economista da Ashmore.
“O mercado quer acreditar no Brasil, mas os investidores estão sem previsibilidade, o que eles não gostam. O governo precisa mostrar que, no longo prazo, será mais previsível, com menos intervenção na economia. Hoje, eu gasto 90% do meu tempo defendendo o governo. Antes eu falava mais do negócio. Eu defendo com convicção, mas é decepcionante ter que defender o que seria óbvio, a capacidade do Brasil de crescer e gerar retorno”, diz o executivo, que também esteve muitos anos no mercado financeiro.
O fundo Ashmore administra cerca de US$ 65 bilhões aplicados em mercados emergentes. Ao economista Jerome Booth, perguntou-se:  Que sinal é esse que esperam tanto receber do Brasil?
“Colocar barreiras para o capital estrangeiro é a última coisa que se quer fazer. É preciso melhorar a disciplina fiscal (gastos públicos) no longo prazo, nem precisa ser muito. Mas o suficiente para que o país possa realmente baixar suas taxas de juros. Até você fazer isso o país vai continuar tendo uma ‘troca’ entre inflação e crescimento. O Brasil tem capacidade de crescer muito mais, mas não insultando o investidor estrangeiro dizendo a eles que não são bem-vindos no país”, conclui o economista.

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