Feirantes levam Catedral de Fortaleza a fechar as portas



A decisão permanece até que a Prefeitura transfira os feirantes, que ocupam calçadas e causam prejuízos
A Catedral Metropolitana de Fortaleza vai fechar suas portas aos domingos. A decisão foi anunciada anteontem pelo pároco da Catedral, padre Clairton Alexandrino, diante dos abusos cometidos pelos ambulantes que ocupam indevidamente o entorno da igreja.
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O problema dos feirantes que ocupam aquela área já foi denunciado diversas vezes pelo Diário do Nordeste. A Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor) diz que decidiu deslocar estes e os feirantes da Rua José Avelino para um terreno no Bairro Messejana, mas sem prazo definido.

"É lamentável, mas foi preciso tomar uma atitude drástica. Quero deixar claro que não sou contra os feirantes, defendo o fato de que eles estão trabalhando para sobreviver. Mas o fato é que se deslocou o problema da Praça Pedro II para o entorno da Catedral, não houve uma solução. Os fiéis me cobram muito uma atitude, mas isto cabe ao poder público", desabafa o padre Clairton.

Segundo o religioso, a decisão foi aprovada pelo arcebispo de Fortaleza, José Antônio de Aparecido Tose, que considera "provinciano" o cancelamento do culto religioso na catedral da quinta maior cidade do Brasil por conta de uma feira. Além da ocupação indevida da pista e das calçadas, o padre denuncia uma série de outras situações.

"Chegam ao ponto de transformar as grades da igreja em expositores, exibindo roupas íntimas femininas e constrangendo os fiéis. Eles ocupam o estacionamento alegando que vão assistir à missa, e mal dá para entrar com o carro, porque eles ocupam todo o espaço. Alguns fazem as necessidades nas escadas, deixando no local uma podridão", ressalta.
Padre Clairton diz que chegou a colocar um cadeado no portão para limitar o acesso, mas que logo foi quebrado. "Havia uma promessa de celebrar um convênio com a Guarda Municipal, chegaram a colocar uma cabine aqui. Mas até hoje nada ocorreu e a cabine está servindo de banheiro", afirma.

Surpresa


Na manhã de ontem, muitos fiéis e turistas que estavam na Catedral se disseram surpresos com a notícia, mas aprovam a atitude do pároco. Com exceção da reforma realizada em 2007, o templo funcionava ininterruptamente desde 1978, quando foi inaugurada.

Luísa de Marilac Sousa, que trabalha há 16 anos na Catedral Metropolitana, lamenta que a situação tenha chegado a esse ponto. "No tempo em que trabalho aqui, nunca havia visto uma situação como esta. Os carros e as pessoas não têm como passar com a quantidade de feirantes que se instalam aqui. Infelizmente, foi necessário tomar essa medida", opina.
Providências
Durante um evento do Fórum Viva Centro, a titular da Secrefor, Luíza Perdigão, diz estar solidária à situação da Catedral.
"Padre Clairton está coberto de razão. É uma cidade que não se respeita, não leva em conta o patrimônio histórico nem os signos religiosos", avaliou.
Segundo a secretária, a providência que o Município vai tomar agora é tirar a feira da Rua José Avelino. "Não dá para ficar ali, é uma feira enorme que acontece duas vezes por semana e não cabe mais naquele local. Vamos embargar todos os imóveis que não têm alvará de funcionamento e tentar transferir esta feira para Messejana, num terreno localizado na Avenida Washington Soares, próximo ao Anel Viário". O problema é que, por enquanto, não há prazo para esta transferência. Luíza Perdigão diz que o Plano de Reordenamento do Comércio Ambulante, que vem sendo executado desde o ano de 2009, é feito aos poucos, com avanços e alguns retrocessos.

"Infelizmente, em 2011, ainda não vamos conseguir devolver a maioria das calçadas. Mas vamos ter a Praça da Lagoinha, a Praça José de Alencar, a Praça da Sé e a Praça da Bandeira".

REORDENAMENTO

Secretaria promete a transferência dos ambulantes
A titular da Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor), Luíza Perdigão, ressaltou que o entorno do Parque da Criança será o próximo alvo do Plano de Reordenamento. "Será feita ainda esta semana uma retirada de 70 ambulantes de lá. Mas, infelizmente, nesse processo ainda temos retrocessos".

De acordo com a secretária, no último sábado (05) houve uma reocupação da Praça da Lagoinha, com ambulantes quebrando os tapumes. "Tivemos que ir para lá, usar a força do poder administrativo, e a gente vai continuar essa luta".

Próximo dali, os feirantes que ocupam a Rua José Avelino começavam a desmontar suas barracas. Na esquina, o poste serve de sustentação para o manequim e também para "limitar" o espaço com cordas.

Ainda assim, eles alegam que atrapalham só um pouco. "Eu acho que está errado as pessoas ocuparem a área do entorno da igreja. A gente fica aqui nos dias de segunda, quarta e quinta-feira, do jeito que foi combinado com a Prefeitura. Tem que tirar quem atrapalha", argumenta a vendedora ambulante Rita Helena Dias Vasconcelos.
Distante
Informada sobre a possibilidade de ser transferida para o bairro de Messejana, Rita Helena diz não achar a solução viável. "É muito longe, a maioria das pessoas mora aqui. Temos que estar onde a clientela está".

Ainda ontem à noite, representantes da Sercefor estiveram reunidos, discutindo providências a serem adotadas com relação ao problema.


KAROLINE VIANAREPÓRTER

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