Capital Mundial do Livro – alguma cidade brasileira poderá ser?
Port Harcourt, cidade nigeriana, foi nomeada “Capital Mundial do Livro” pelo comitê de seleção integrado por membros da IPA (International publishers Association); IBF (International Booksellers Federation); IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) e da UNESCO. A atual Capital Mundial do Livro é Bangcoc, na Tailândia. O título é válido entre as duas celebrações do Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral, comemorado no dia 23 de abril.
Port Harcourt foi escolhida “devido à qualidade de seu programa, em particular quanto ao foco na juventude, e no impacto que deve ter no desenvolvimento da cultura do livro, da leitura, escrita e edição na Nigéria e seu papel na melhoria dos índices de alfabetização”.
Jans Bemmel, Secretário Geral da IPA, declarou que “o número de candidaturas recebido este ano foi o maior (11), desde que o programa da UNESCO começou em 2001, seguindo uma iniciativa da IPA. Muitas eram muito boas. Nesse contexto, a IPA ficou muito impressionada pela qualidade da candidatura apresentada pela cidade de Port Harcourt: um programa claro, ambicioso e animador que vai para além de 2014, destinado a gerar entusiasmo pelos livros e pela leitura”.
É bom notar que Port Harcourt fazia parte da Biafra, uma guerra terrível que tentou separar a região da Nigéria entre 1967 e 1970. A guerra teve como centro a disputa pelos recursos petrolíferos da região e foi extremamente sangrenta.
Depois de terminada a guerra civil, com a derrota dos separatistas, os recursos provenientes da exploração do petróleo proporcionaram meios para o desenvolvimento econômico da região. Pelo visto, segundo a avaliação dos membros do comitê da “Capital Mundial do Livro”, não apenas o desenvolvimento econômico foi procurado, mas também o desenvolvimento social e cultural, a ponto de permitir essa indicação.
As candidaturas à “Capital Mundial do Livro” são apresentadas à UNESCO e devem incluir ações de caráter permanente e continuado na promoção do livro, da leitura, da edição e defesa dos direitos autorais de modo consistente. A única cidade sul-americana nomeada Capital Mundial do Livro foi Buenos Aires, em 2011.
Sinceramente, preferiria que alguma cidade brasileira se candidatasse a esse posto em vez de ser sede de olimpíadas ou da copa de futebol. Certamente as empreiteiras de grandes obras não ganhariam tanto dinheiro, mas o desenvolvimento cultural e social teria repercussões muito mais importantes e duradouras.
No panorama brasileiro, acredito que a única cidade que poderia apresentar uma candidatura decente a Capital Mundial do Livro seria Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. E isso graças ao formidável trabalho desenvolvido a partir da Universidade de Passo Fundo e capitaneado pela Tânia Rösing, e que se centra nas Jornadas Literárias. Um evento de literatura que não se reduz a um mero espetáculo de palestras e encontros de autores famosos – o que também acontece, sim – mas é um trabalho junto ao sistema escolar desenvolvido continuadamente, fazendo que os estudantes leiam, conheçam e discutam os livros de dezenas de autores de todos os gêneros, durante o período anterior à Jornada.
Ou, quem sabe, os famosos recursos do pré-sal permitissem que uma constelação de cidades da costa brasileira pudesse se candidatar coletivamente, apresentando um programa criativo, ambicioso, inovador e eficiente de expansão de bibliotecas, formação de mediadores, incentivo à escrita e à leitura nas escolas e fora delas.
Sonhar não custa nada. Com a palavra a Biblioteca Nacional e o Ministério da Cultura.
*Publicado originalmente no blog O Xis do Problema
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