HOMENAGEM Elis na voz deles
Projeto liderado por Pedro Mariano reúne grandes vozes masculinas para lembrar Elis Regina
O sambista Diogo Nogueira e os cantores e compositores Paulinho Moska e Rogério Flausino (Jota Quest) foram alguns dos nomes escalados para o projeto de Pedro Mariano: mais uma homenagem ao legado da intérprete de "Como nossos pais"
A entrega na interpretação, a voz, a forma exata de se apossar da música como se únicas fossem, a canção e a intérprete. Estas características há tanto pertencentes a uma pessoa só, a cantora Elis Regina, continuam somente dela - óbvio, pois as pessoas são únicas e a história não se repete - mas parecem ter sido divididas e espalhadas como sementes na cultura do País. Trinta anos após a sua morte, Elis é uma das principais referências de novos artistas. Ousada sempre, não influencia apenas o universo feminino. Há muito dela também nos intérpretes que se juntam agora para homenageá-la.
É o projeto "Elis por Eles", cujo show único acontece, na próxima quinta-feira, no Teatro Positivo, em Curitiba, com 14 cantores. O tributo será gravado e, até o final do ano, lançado em CD e DVD pelo selo Nau, de Pedro Mariano, filho de Elis com o pianista César Camargo Mariano. Para cantar a musa, estão desde contemporâneos seus, como Cauby Peixoto e Jair Rodrigues, até o mais recente nome do cenário musical assumidamente fã dela, Filipe Catto (Ver quadro). À frente do projeto, Pedro, que pretende mostrar as marcas deixadas pela mãe para além da voz. Lembrar sua pluralidade, ousadia e a fuga insistente do óbvio.
A ideia surgiu em 2009, quando o cantor foi convidado para dirigir o tributo. Porém, só no fim do ano passado, conseguiu-se a verba para iniciar a produção através de patrocínio da Volvo. A homenagem não estava vinculada a datas específicas. O ano de 2012 marca as três décadas de morte da cantora e, por isso, ela vem sendo alvo de muitas reverências. Os irmãos de Pedro, João Marcelo e Maria Rita, já a fizeram em projeto no semestre passado e está previsto ainda para este ano, um filme de Nelson Motta. No caso do "Elis por Eles" foi a demora para conseguir patrocínio que possibilitou acontecer justo agora.
Coincidência? Destino? Não são estas as preocupações de Pedro. Relevante para ele tem sido ver o projeto tomar forma com os diferenciais pretendidos. Primeiro, é raro um intérprete ter repertório revisitado. O usual é a releitura de clássicos dos compositores. Depois, há uma declaração escancarada e até surpreendente da admiração por Elis de cantores dos mais diversos estilos musicais. Qual seria a relação de Elis com Seu Jorge? E com Rogério Flausino, do Jota Quest? Diogo Nogueira? É esperar para ver.
Não foi fácil juntar a agenda dos 14 cantores. Mas apenas Cauby gravou em estúdio e não estará em Curitiba. No show, entrará em vídeo, assim como alguns dos principais compositores de Elis, que gravaram depoimentos. Já estão acertados Milton Nascimento, Ivan Lins e João Bosco. Eles vão contar histórias de bastidores e não cantar para possibilitar aos novos intérpretes defender o repertório da cantora e, em consequência, as músicas desses compositores. Afinal, como lembra Pedro, homenagear Elis é reverenciá-los também.
Repertório
Para o repertório, prevaleceu a escolha dos intérpretes. O importante era a contribuição de cada um defendendo a música relevante para ele. "Chegava e perguntava: o que você quer cantar? Fique à vontade", conta Pedro. Chitãozinho e Xororó aceitaram, literalmente, a sugestão. Está neles uma das opções, digamos assim, mais inusitadas. O que se espera de uma dupla sertaneja cantando Elis Regina? "Romaria", claro. A música de Renato Teixeira que abriu o mercado para as canções rurais. Os dois, porém, foram categóricos: "Como nossos Pais", de autoria do cearense Belchior. Das músicas emblemáticas de Elis, duas não poderiam ficar fora: "Atrás da Porta", de Chico Buarque, e "O bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. Pedro as queria pela relevância na vida e carreira da mãe. E, no caso da música de João Bosco, também por seu caráter histórico. Ela é tida como o hino da anistia no País. Lenine vai cantar "Atrás da Porta". Pedro, "O Bêbado e a Equilibrista".
Esta não é a primeira vez que o filho homenageia a mãe. Em 1995, quando ela completaria 50 anos, realizou com João Marcelo o "Tributo a Elis". Com João na bateria, Pedro cantou "Como nossos pais". Desde então, faz visitas esporádicas à obra dela. Todas marcantes. Com o pai, César, interpretou de maneira ímpar, "Se eu quiser falar com Deus", de Gilberto Gil. Também únicas estão suas leituras de "Aos nossos filhos" (Ivan Lins) e "Ladeira da Preguiça", de Gil, feitas no seu DVD de 2005.
Dessa vez, porém, Pedro assume: os sentimentos estão muito mais intensos. "Talvez com a idade, com a experiência, você vá digerindo as histórias de outra maneira e vai renovando essas emoções. De longe esse é um dos projetos mais ricos e mais maravilhosos de que eu já participei", avalia. Só a gravação de Cauby foi de uma carga emocional tão absurda, adianta o cantor, que ele ficou alerta para a possível turbulência emocional durante o show. Em janeiro de 1982, quando a cantora morreu, Pedro tinha seis anos. São poucas ou quase nulas as lembranças realmente suas de Elis mãe. Da artista sabe quase tudo e, agora, na pesquisa para o projeto, descobriu mais. "Isso tudo pra mim tem efeito muito interessante. São peças de um quebra-cabeça que eu venho tentando montar desde o dia em que ela foi embora".
Dificuldades de um artista e seu amor pela estrada
A organização do tributo para Elis Regina não impediu o cantor Pedro Mariano de manter a turnê do seu mais recente disco, o "8", iniciada este ano. O intervalo entre os shows ficou maior nos últimos meses, mas a expectativa é que após o dia dois, a turnê volte com mais força. O espetáculo montado pelo artista para o novo disco tem estrutura bem distinta do trabalho anterior, o Incondicional.
É com uma balada suave - a música "Simples", do amigo Jair Oliveira - e um clima intimista que o intérprete entra no palco. É lentamente que o show vai ganhando movimento. A mudança foi impactante mas o público gostou. "Essas brincadeiras são sempre muito saudáveis e interessantes de serem feitas", diz Pedro, falando sobre a sua necessidade de ousar, de se atrever em cada show. Na maioria dos casos, quando se está construindo um disco ou show, já se sabe o que dá certo, porque o artista e o público se conhecem. "Para mim, o grande barato é ficar quebrando essa linha racional, criando surpresas".
Tem dado certo. No "8", ele mescla as músicas novas com a de espetáculos anteriores e as já tradicionais e se mostra ainda mais solto no palco. Não há monotonia. Ora entra o pedestal, ora o banquinho, ora fica só piano e voz, ora Pedro assume a bateria, ora brinca até com o figurino. O espetáculo tem feito sucesso em São Paulo, mas lamentavelmente, está quase restrito ao Estado. Não por decisão de Pedro Mariano.
Novamente, a vontade do artista esbarra na falta de patrocínio. Como o País é muito grande, não dá para viajar por muitos lugares sem a existência de patrocinador seja para toda a turnê ou apenas local. Os custos ficam muito altos e isso acaba sendo repassado para o ingresso. O que não é interessante. Não bastasse isso, o cantor lembra que o preço das tarifas áreas aumentou, que as empresas não transportam mais instrumentos de artistas - a não ser como carga, aumentando o custo e o tempo de viagem - e isso atinge a arte da pior maneira. Mas Pedro é persistente. "Todos os meses precisamos fazer a agenda rodar".
Fortaleza continua em seus planos para este ano.
SAIBA MAIS
Jair Rodrigues Arrastão/Menino das Laranjeiras (Vinicius de Moraes e Edu Lobo/Théo de Barros)
Chitãozinho & Xororó Como Nossos Pais (Belchior)
Jorge Vercillo O Mestre-Sala dos Mares (João Bosco e Aldir Blanc)
Emílio Santiago Só Tinha Que Ser Com Você (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira)
Rogério Flausino Vivendo e Aprendendo a jogar (Guilherme Arantes)
Diogo Nogueira Amor Até o Fim (Gilberto Gil)
Cauby Peixoto Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (João Bosco e Aldir Blac)
Jair Oliveira Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza)
Paulinho Moska Nada Será Como Antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
Lenine Atrás da Porta (Chico Buarque)
Roupa Nova Casa no Campo (Zé Rodrix e Tavito)
Seu Jorge Cai Dentro (Baden Powell e Paulo César Pinheiro)
Filipe Catto Tatuagem (Chico Buarque)
Pedro Mariano O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)
Mais informações:
Elis por Eles. Show no Teatro Positivo, em Curitiba, dia 02/08,
às 21h. Ingressos: diskingressos.com.br
Contato: teatropositivo.com.br
ERILENE FIRMINOCHEFE DE REPORTAGEM
O sambista Diogo Nogueira e os cantores e compositores Paulinho Moska e Rogério Flausino (Jota Quest) foram alguns dos nomes escalados para o projeto de Pedro Mariano: mais uma homenagem ao legado da intérprete de "Como nossos pais"
A entrega na interpretação, a voz, a forma exata de se apossar da música como se únicas fossem, a canção e a intérprete. Estas características há tanto pertencentes a uma pessoa só, a cantora Elis Regina, continuam somente dela - óbvio, pois as pessoas são únicas e a história não se repete - mas parecem ter sido divididas e espalhadas como sementes na cultura do País. Trinta anos após a sua morte, Elis é uma das principais referências de novos artistas. Ousada sempre, não influencia apenas o universo feminino. Há muito dela também nos intérpretes que se juntam agora para homenageá-la.
É o projeto "Elis por Eles", cujo show único acontece, na próxima quinta-feira, no Teatro Positivo, em Curitiba, com 14 cantores. O tributo será gravado e, até o final do ano, lançado em CD e DVD pelo selo Nau, de Pedro Mariano, filho de Elis com o pianista César Camargo Mariano. Para cantar a musa, estão desde contemporâneos seus, como Cauby Peixoto e Jair Rodrigues, até o mais recente nome do cenário musical assumidamente fã dela, Filipe Catto (Ver quadro). À frente do projeto, Pedro, que pretende mostrar as marcas deixadas pela mãe para além da voz. Lembrar sua pluralidade, ousadia e a fuga insistente do óbvio.
A ideia surgiu em 2009, quando o cantor foi convidado para dirigir o tributo. Porém, só no fim do ano passado, conseguiu-se a verba para iniciar a produção através de patrocínio da Volvo. A homenagem não estava vinculada a datas específicas. O ano de 2012 marca as três décadas de morte da cantora e, por isso, ela vem sendo alvo de muitas reverências. Os irmãos de Pedro, João Marcelo e Maria Rita, já a fizeram em projeto no semestre passado e está previsto ainda para este ano, um filme de Nelson Motta. No caso do "Elis por Eles" foi a demora para conseguir patrocínio que possibilitou acontecer justo agora.
Coincidência? Destino? Não são estas as preocupações de Pedro. Relevante para ele tem sido ver o projeto tomar forma com os diferenciais pretendidos. Primeiro, é raro um intérprete ter repertório revisitado. O usual é a releitura de clássicos dos compositores. Depois, há uma declaração escancarada e até surpreendente da admiração por Elis de cantores dos mais diversos estilos musicais. Qual seria a relação de Elis com Seu Jorge? E com Rogério Flausino, do Jota Quest? Diogo Nogueira? É esperar para ver.
Não foi fácil juntar a agenda dos 14 cantores. Mas apenas Cauby gravou em estúdio e não estará em Curitiba. No show, entrará em vídeo, assim como alguns dos principais compositores de Elis, que gravaram depoimentos. Já estão acertados Milton Nascimento, Ivan Lins e João Bosco. Eles vão contar histórias de bastidores e não cantar para possibilitar aos novos intérpretes defender o repertório da cantora e, em consequência, as músicas desses compositores. Afinal, como lembra Pedro, homenagear Elis é reverenciá-los também.
Repertório
Para o repertório, prevaleceu a escolha dos intérpretes. O importante era a contribuição de cada um defendendo a música relevante para ele. "Chegava e perguntava: o que você quer cantar? Fique à vontade", conta Pedro. Chitãozinho e Xororó aceitaram, literalmente, a sugestão. Está neles uma das opções, digamos assim, mais inusitadas. O que se espera de uma dupla sertaneja cantando Elis Regina? "Romaria", claro. A música de Renato Teixeira que abriu o mercado para as canções rurais. Os dois, porém, foram categóricos: "Como nossos Pais", de autoria do cearense Belchior. Das músicas emblemáticas de Elis, duas não poderiam ficar fora: "Atrás da Porta", de Chico Buarque, e "O bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. Pedro as queria pela relevância na vida e carreira da mãe. E, no caso da música de João Bosco, também por seu caráter histórico. Ela é tida como o hino da anistia no País. Lenine vai cantar "Atrás da Porta". Pedro, "O Bêbado e a Equilibrista".
Esta não é a primeira vez que o filho homenageia a mãe. Em 1995, quando ela completaria 50 anos, realizou com João Marcelo o "Tributo a Elis". Com João na bateria, Pedro cantou "Como nossos pais". Desde então, faz visitas esporádicas à obra dela. Todas marcantes. Com o pai, César, interpretou de maneira ímpar, "Se eu quiser falar com Deus", de Gilberto Gil. Também únicas estão suas leituras de "Aos nossos filhos" (Ivan Lins) e "Ladeira da Preguiça", de Gil, feitas no seu DVD de 2005.
Dessa vez, porém, Pedro assume: os sentimentos estão muito mais intensos. "Talvez com a idade, com a experiência, você vá digerindo as histórias de outra maneira e vai renovando essas emoções. De longe esse é um dos projetos mais ricos e mais maravilhosos de que eu já participei", avalia. Só a gravação de Cauby foi de uma carga emocional tão absurda, adianta o cantor, que ele ficou alerta para a possível turbulência emocional durante o show. Em janeiro de 1982, quando a cantora morreu, Pedro tinha seis anos. São poucas ou quase nulas as lembranças realmente suas de Elis mãe. Da artista sabe quase tudo e, agora, na pesquisa para o projeto, descobriu mais. "Isso tudo pra mim tem efeito muito interessante. São peças de um quebra-cabeça que eu venho tentando montar desde o dia em que ela foi embora".
Dificuldades de um artista e seu amor pela estrada
A organização do tributo para Elis Regina não impediu o cantor Pedro Mariano de manter a turnê do seu mais recente disco, o "8", iniciada este ano. O intervalo entre os shows ficou maior nos últimos meses, mas a expectativa é que após o dia dois, a turnê volte com mais força. O espetáculo montado pelo artista para o novo disco tem estrutura bem distinta do trabalho anterior, o Incondicional.
É com uma balada suave - a música "Simples", do amigo Jair Oliveira - e um clima intimista que o intérprete entra no palco. É lentamente que o show vai ganhando movimento. A mudança foi impactante mas o público gostou. "Essas brincadeiras são sempre muito saudáveis e interessantes de serem feitas", diz Pedro, falando sobre a sua necessidade de ousar, de se atrever em cada show. Na maioria dos casos, quando se está construindo um disco ou show, já se sabe o que dá certo, porque o artista e o público se conhecem. "Para mim, o grande barato é ficar quebrando essa linha racional, criando surpresas".
Tem dado certo. No "8", ele mescla as músicas novas com a de espetáculos anteriores e as já tradicionais e se mostra ainda mais solto no palco. Não há monotonia. Ora entra o pedestal, ora o banquinho, ora fica só piano e voz, ora Pedro assume a bateria, ora brinca até com o figurino. O espetáculo tem feito sucesso em São Paulo, mas lamentavelmente, está quase restrito ao Estado. Não por decisão de Pedro Mariano.
Novamente, a vontade do artista esbarra na falta de patrocínio. Como o País é muito grande, não dá para viajar por muitos lugares sem a existência de patrocinador seja para toda a turnê ou apenas local. Os custos ficam muito altos e isso acaba sendo repassado para o ingresso. O que não é interessante. Não bastasse isso, o cantor lembra que o preço das tarifas áreas aumentou, que as empresas não transportam mais instrumentos de artistas - a não ser como carga, aumentando o custo e o tempo de viagem - e isso atinge a arte da pior maneira. Mas Pedro é persistente. "Todos os meses precisamos fazer a agenda rodar".
Fortaleza continua em seus planos para este ano.
SAIBA MAIS
Jair Rodrigues Arrastão/Menino das Laranjeiras (Vinicius de Moraes e Edu Lobo/Théo de Barros)
Chitãozinho & Xororó Como Nossos Pais (Belchior)
Jorge Vercillo O Mestre-Sala dos Mares (João Bosco e Aldir Blanc)
Emílio Santiago Só Tinha Que Ser Com Você (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira)
Rogério Flausino Vivendo e Aprendendo a jogar (Guilherme Arantes)
Diogo Nogueira Amor Até o Fim (Gilberto Gil)
Cauby Peixoto Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (João Bosco e Aldir Blac)
Jair Oliveira Madalena (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza)
Paulinho Moska Nada Será Como Antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
Lenine Atrás da Porta (Chico Buarque)
Roupa Nova Casa no Campo (Zé Rodrix e Tavito)
Seu Jorge Cai Dentro (Baden Powell e Paulo César Pinheiro)
Filipe Catto Tatuagem (Chico Buarque)
Pedro Mariano O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)
Mais informações:
Elis por Eles. Show no Teatro Positivo, em Curitiba, dia 02/08,
às 21h. Ingressos: diskingressos.com.br
Contato: teatropositivo.com.br
ERILENE FIRMINOCHEFE DE REPORTAGEM
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