Copom deve reduzir juros pela oitava reunião seguida, prevê mercado


Sonho de consumo de equipes econômicas de vários governos, a taxa básica de juros de um dígito, ou seja, abaixo de 10% ao ano, já é uma realidade da economia brasileira e, segundo a crença de economistas do mercado financeiro, assim deve permanecer por um bom tempo. 
Nesta quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne e deve baixar, pela oitava reunião consecutiva, os juros da economia. Desta vez, segundo a aposta dos analistas do mercado financeiro, a taxa básica deve recuar de 8,5% para 8% ao ano – inaugurando assim uma nova mínima histórica.
Selic a 8,5% (Foto: Editoria de Arte/G1)
A previsão dos economistas dos bancos é que a taxa deve permanecer abaixo de 10% ao ano por um longo período. Pesquisa conduzida pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras, que dá origem ao relatório Focus, mostra que a estimativa dos bancos é de juros em um dígito entre 2012 e 2016 – até quando vai o levantamento. A curva de juros do mercado futuro, porém, mostra juro abaixo de 10% ao ano até 2022 - quando poderá atingir 10,08% ao ano. 
Pelo sistema de metas de inflação, que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2012, 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Evolução histórica
O patamar de um dígito para a taxa de juros brasileira ganha mais importância ainda quando se observa o contexto histórico. A série do Banco Central sobre a taxa de juros teve início em 1986, quando a taxa somava 23,5% ao ano.
Entre fevereiro de 1987 e o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, o país conviveu com taxas de juros em três dígitos, isto é, acima de 100% ao ano, com exceção de abril e maio de 1990. Antes disso, em fevereiro daquele ano, os juros atingiram 438.769,68% ao ano, de acordo com a autoridade monetária. Em fevereiro de 1990, a inflação somou 82,4%.
Em maio de 2000, dois anos e meio antes do fim de seu segundo mandato, o então presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que gostaria de deixar o governo com juros em um dígito – o que não chegou a acontecer. "A ideia é essa, se não tiver nenhuma catástrofe internacional", disse, na ocasião. No ano seguinte, ocorreram a crise do apagão e a da dívida argentina.
Em 2003, no início de seu primeiro governo, Luiz Inácio Lula da Silva chegou a declarar que a taxa de juros em um dígito era um "sonho da equipe econômica". O objetivo foi atingido somente em junho de 2009, no seu segundo mandato, mas vigorou por um período limitado – até meados de 2010. Ela só voltou a cair abaixo de 10% ao ano em março de 2012, já no governo Dilma.
Avaliações dos economistasUma vez obtida novamente a taxa de um dígito, a opinião do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Polítca Econômica do Ministério da Fazenda e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é a de que o Banco Central faz bem em tentar "consolidar" este patamar.
"Se a condição lá fora é de retração ou de desaceleração da econômica, o BC faz muito bem em reduzir juros e consolidar a taxa de um dígito. Vamos ter flutuações nos juros de acordo com as condições inflacionárias da economia. Vai subir um pouco, vai baixar um pouco, mas não sobe mais acima de dois dígitos a não ser em condições excepcionais", avalia Almeida.
Segundo Miguel Daoud, economista da Global Financial Advisor, o comportamento dos juros vai depender do crescimento da economia brasileira e seu impacto sobre a inflação.
"A taxa de juros não é uma vontade do governo e do BC. Ela representa a lei da oferta e procura do dinheiro. A gente não pode afirmar que os juros vão ficar abaixo de 10% [por muitos anos]", declara. Ele avalia, porém, que juros em um dígito são possíveis se o governo implementar um "projeto de nação", com redução da carga tributária, melhora da infraestrutura e dos processos produtivos.
Consequências para o setor produtivo
Ambos os economistas concordam, porém, que a redução dos juros para um patamar mais próximo de países desenvolvidos será extremanente benéfico para o financiamento do setor produtivo nacional. 
"O patamar anterior dos juros era uma aberração. O governo está botando o BNDES para tentar ajudar pontualmente, mas não sei se vai conseguir (...) Se tivermos a economia crescendo 5% e juros de 7% ao ano, que provavelmente vai chegar até o fim do ano, é uma taxa de juros real [após o abatimento da inflação] de primeiro mundo. Vai ser ótima", diz Miguel Daoud.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi, avalia que a mudança de patamar dos juros é "fantástica". "Pode ser resumida em uma colocação muito simples: a economia real passa a ter uma dimensão muito mais relevante, muito mais atraente, em relação à economia financeria, o que significa dizer que devem aumentar os investimentos e o movimento em torno das empresas produtivas. E renasce com muita intensidade o mercado de capitais."
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  • Em sua visão, o processo de cortes dos juros vai permitir um "padrão de financiametno mais amplo, mais diversificado e menos dependente do BNDES". "Isso vai ser uma revolução no financiamento das empresas brasileiras. Vão poder crescer, competir com empresas internacionais com igualdade maior", conclui Almeida.

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