Dilma: “Eu vou fazer o que tem que ser feito”

Banqueiros. Latifundiários. Militares. Quem mais teria coragem de enfrentar os interesses destas corporações em assuntos considerados intocáveis até outro dia, como queda de juros, reforma do Código Florestal e criação da Comissão da Verdade, verdadeiros tabus históricos?

Por Ricardo Kotscho

Sem se preocupar com o que os outros vão pensar, a presidente Dilma Rousseff resolveu ir à luta em variadas frentes nas últimas semanas, comprando muitas brigas ao mesmo tempo. Vai ganhar todas? Só o tempo poderá dizer, mas ela não é de fugir da raia.

"Com a popularidade que esta mulher tem, até eu...", poderia desdenhar algum representante dos 5% que não gostam do governo dela.

Não é bem assim, como ouviu na semana passada o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao fazer um comentário sobre a alta aprovação de Dilma nas pesquisas, durante reunião em que ela explicou aos empresários as mudanças nas regras da caderneta de poupança, outro tema delicado que ela resolveu encarar.

"Eu vou fazer o que tem que ser feito, sem me preocupar com pesquisas", respondeu-lhe Dilma, resumindo o espírito da presidente que se tornou um lema do seu governo prestes a completar 18 meses.

Por que fazer tudo ao mesmo tempo? Cheguei a me preocupar, ao ver as decisões anunciadas, que mexem com os interesses de setores sempre tão temidos pelos governantes.

Depois das conversas que tive no Palácio do Planalto no final do mês passado, percebi que a presidente resolveu assumir em suas mãos o comando e a iniciativa política, mesmo em questões econômicas, exatamente como fez o ex-presidente Lula em seu segundo mandato.

"Este é um governo monocrático", explicou-me um dos interlocutores frequentes da presidente, quando me queixei a ele da dificuldade para obter informações. Dilma centraliza todas as ações em seu gabinete e não gosta quando seus ministros saem por aí dando declarações, mesmo em off, sobre assuntos que ainda não estão decididos por ela.

Como a presidente fala pouco, e só ela quer falar em nome do governo, os jornalistas de Brasília que cobrem o Palácio do Planalto sofrem, assim como os seus colegas de outras cidades.

Agora, ao ver o pacote de medidas polêmicas anunciadas nas últimas duas semanas, entendi a razão: Dilma toma suas decisões com cuidado, amadurece sem pressa os seus projetos e procura preparar o terreno antes de anunciá-los, como aconteceu na última semana com a Comissão da Verdade.

A lei que criou a comissão foi assinada por Dilma em novembro do ano passado, mas ela fez questão de escolher pessoalmente, um a um, sem ceder a nenhum lobby, os sete nomes que anunciou na quinta-feira. Conheço a maioria deles e posso garantir que o time é da melhor qualidade, tanto do ponto de vista moral como profissional.

Na mesma noite, ela convidou os notáveis para um jantar no Palácio da Alvorada, explicou o que espera deles e deixou claro que não quer qualquer "revanchismo" contra os militares. "A Comissão da Verdade é um orgão do Estado e não do governo", resumiu.

Este é o estilo Dilma que vai se consolidando: pode demorar para agir, mas quando age procura ter o domínio da situação. Foi assim também com a questão da queda dos juros, que só anunciou depois de longas conversas com os donos dos bancos e economistas da sua confiança.

E será desta forma que a presidente vai decidir sobre os vetos ao Código Florestal aprovado pela Câmara. Após o movimento "Veta, Dilma", criado pelos ambientalistas, agora surgiu também o "Não veta, Dilma", patrocinado pelos ruralistas. Dilma acompanha de longe o debate na internet e, com calma, vai amadurecendo a sua decisão, que pode não contentar nenhum dos dois movimentos.

Se algum assessor lembrar a ela o descontentamento de um lado ou outro, que militares, banqueiros, parlamentares da base aliada ou vendedores de couve podem não gostar das suas decisões, Dilma costuma reagir com duas palavras: "Problema deles". Os donos da mídia já perceberam isso.

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