Taxa básica de juros cai para 8,5%, a menor desde 1999

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, nesta quarta-feira (30), para 8,5% ao ano a taxa básica de juros que remunera os títulos públicos depositados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). É o nível mais baixo da taxa Selic desde que a atual política monetária foi adotada, no início de 1999.
A redução veio em linha com as expectativas da maioria dos analistas financeiros, como mostra o boletim Focus, divulgado pelo BC na última segunda-feira (28).

Foi a sétima redução consecutiva da taxa básica de juros, que chegou a 12,5% em julho do ano passado, começou a declinar no mês seguinte e, desde então, caiu 4 pontos percentuais.
A definição da Selic em 8,5% foi unânime. "O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O comitê nota ainda que até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária", disse o comitê em nota. A decisão é sem viés, ou seja, não será alterada até a próxima reunião do colegiado.

Em razão do longo processo de afrouxamento da política monetária, que já dura dez meses, como forma de estimular o consumo interno e reativar a economia, a maioria dos analistas financeiros acredita que o processo de redução da Selic deve cair também na próxima reunião do Copom, agendada para os dias 10 e 11 de junho.

A reunião desta quarta-feira foi a primeira em que o voto dos diretores foi divulgado, conforme determina a Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor há duas semanas.

O sindicalista Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), declarou ao Vermelho que a decisão do Copom “está no rumo certo”.

Em nota emitida na noite desta quarta-feira, Gomes afirma que a medida “reorienta a política monetária e se soma às iniciativas adotadas pelo governo Dilma para fazer frente aos efeitos da crise mundial do capitalismo e reverter o processo de desaceleração da economia nacional”.

O sindicalista considera a decisão ”digna do apoio popular, assim como a ofensiva pela diminuição do spread bancário, que também confronta os interesses da oligarquia financeira”.

Ao mesmo tempo, o presidente da CTB diz que é preciso “avançar mais no sentido de promover mudanças mais ousadas na política econômica para recuperar a capacidade de investimento e crescimento da economia, evitando a estagnação, que já transparece em alguns indicadores sobre o PIB, e contornando a crise internacional, cujo agravamento é notório, especialmente (mas não só) na Europa”.

A CTB defende que além de novas reduções nas taxas de juros, em todas suas modalidades, é necessário a redução substancial do superávit primário e a alocação dos recursos hoje destinados ao pagamento dos juros da dívida pública para investimentos públicos e atendimento das demandas sociais. “É contraproducente cortar gastos públicos em tempo de crise”, assinala Gomes.

Ele destaca ainda que a CTB defende igualmente a mudança da política cambial, a centralização do câmbio, o fim do chamado câmbio flutuante e o controle das cotações, hoje exageradamente instáveis em função do “tsunami monetário” provocado pelas políticas monetárias dos EUA e União Europeia, assim como maior taxação e restrições às remessas de lucros e dividendos, principal causa do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos.

Apesar de considerar “um avanço importante” a manutenção da trajetória descendente da taxa básica de juros, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) pede novos cortes. “É necessário reduzir ainda mais a Selic, de forma a aproximá-la dos níveis internacionais, e é inadiável forçar o sistema financeiro nacional a baixar de verdade as altas taxas de juros, o spread e as tarifas”, afirmou o presidente da entidade, Carlos Cordeiro.

Segundo ele, embora os bancos, “pressionados pelo governo”, tenham anunciado reduções nos juros, o crédito mais barato ainda não chegou ao consumidor. “Pior ainda, alguns bancos estão aumentando ainda mais as tarifas a pretexto de compensar a queda dos juros”, diz Cordeiro. “Há uma ausência total de transparência por parte dos bancos. As reduções ocorrem em apenas algumas linhas de crédito, com tantas condicionantes impostas que excluem a grande maioria dos clientes. Além disso, cada instituição usa nomenclaturas diferentes para seus produtos e serviços, o que impede comparações e a competição. Ou seja, os bancos estão enganando a população.”

O dirigente voltou a cobrar a realização de uma conferência nacional do sistema financeiro, para discutir essas e outras questões, como o crédito e a concentração no setor.

Para o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, a redução da taxa básica representou “um alento para a indústria do país, que vem mostrando dificuldades em apresentar sinais consistentes de crescimento”. Segundo ele, o governo deve continuar reduzindo a Selic, “combatendo desta forma a especulação, um mecanismo perverso que inibe a produção, o consumo e a geração de postos de trabalho”.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse que o corte na taxa básica de juros (Selic) anunciado é bem-vindo. A Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) também considerou acertada a decisão do Banco Central de diminuir a taxa básica de juros (Selic) para 8,5% ao ano.


Do Redação do Vermelho, com informações das agências, CTB e Rede Brasil Atual

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