PCdoB: Comitê Estadual inicia debate de projeto eleitoral de 2012


Aconteceu neste final de semana, nos dias 26 e 27 de fevereiro, a primeira reunião do Comitê Estadual do PCdoB cearense em 2011. Na pauta do encontro, a atualização do quadro político visando as próximas eleições de 2012 e 2014; a atuação partidária nos movimentos sociais; os desafios do fortalecimento PCdoB e sua estruturação durante o processo de conferências que acontecerão neste ano.

Patinhas CE
Patinhas alertou sobre as diversas tarefas dos comunistas neste ano.
Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), presidente estadual do PCdoB, iniciou o debate registrando os 49 anos da reorganização do Partido, no dia 18 fevereiro de 1962. “Foi um ato de clarividência dos dirigentes na época que encabeçaram uma decisão histórica ao reorganizar o Partido. Dos 89 anos de trajetória, considero esta atitude determinante para as conquistas que vivenciamos hoje. De 1962 para cá, o PCdoB cresceu e atualmente somos o segundo maior partido comunista da América Latina”, analisa o dirigente que fez um chamado à militância para observar o atual momento que o Partido vive no cenário nacional. “Exercemos papel importante no país e contribuímos diretamente para a consolidação de um projeto maior de nação”.

Novo cenário internacional
Durante a intervenção, o comunista fez um balanço sobre o momento político internacional e seus desdobramentos no Brasil. “Mesmo com a derrota do modelo soviético de Socialismo e a queda do muro de Berlim, o mundo continua girando, a luta dos trabalhadores continua crescendo e a perspectiva do Socialismo não morreu. Somos testemunhas da ascensão das forças democráticas, progressistas e populares na América Latina que envolve movimentos sociais e grande debate de ideias. Todas essas questões refletem uma nova luta pelo Socialismo”, considera Carlos Augusto.

O dirigente comunista citou a necessidade de acompanhar e analisar as rebeliões de massa que ocorrem em países como Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein e Iêmen buscando extrair lições para a luta revolucionária da época atual. Os Estados Unidos e a Europa manobram no sentido de continuarem influenciando na região, maior fornecedora de petróleo do mundo. “A nossa expectativa é de que o desdobramento destes levantes, ainda em evolução, leve a um novo quadro político na região, com a instauração de regimes democráticos e de desatrelamento da política imperialista dos Estados Unidos e de Israel”, avalia Patinhas.

Brasil
Dois meses após seu início, o dirigente comunista considera positivas as perspectivas do novo governo. “Estamos otimistas em relação ao Governo da Presidenta Dilma. Este é um momento inédito, com o terceiro governo progressista e democrático seguido, com a marca da atuação da esquerda. E o PCdoB luta pelo êxito do novo Governo mas ressalta a necessidade de se avançar nas mudanças”, ratifica Patinhas.

O dirigente alerta, porém, que são maiores os desafio do Governo da Presidenta Dilma. “Nós -
enquanto base de apoio do governo - deveremos procurar ligar as lutas concretas do dia a dia à perspectiva de uma maior transformação no país garantindo que este novo governo represente um segundo momento na construção do projeto de desenvolvimento do país. Dilma precisa avançar nas conquistas já alcançadas nos dois governos de Lula e visualizar o país a médio e longo prazos”, reforça.

Para este avanço, analisa Patinhas, duas condições são fundamentais: ultrapassar a taxa média de crescimento do Governo Lula (em torno de 4%) e avançar nas reformas estruturais, que ao longo da história tornaram-se grandes problemas para o Brasil. “É preciso enfrentar as reformas política, urbana, agrária, tributária e também a democratização dos meios de comunicação”, enumera.

Política macroeconômica
De acordo com o dirigente comunista a taxa de juros tem sido um dos fatores que impedem o crescimento do país. “Estamos preocupados com as primeiras ações do novo Governo em relação à política econômica. É preciso examinar com critérios os gastos do Governo. Os principais gastos não são de custeio nem investimento, que é de onde pretendem cortar. Todos devem saber que 30% do orçamento são destinados para os juros, fator que Governo não acena em diminuir”, alerta Carlos Augusto.

Para o presidente estadual do PCdoB, cortar recursos dos investimentos dificultará ainda mais o crescimento do país. “Para exemplificar, o superávit de janeiro deste ano foi maior do que o valor que o Governo gasta por um ano no Programa Bolsa Família”, afirma Patinhas e acrescenta: “o Governo Dilma se dá num quadro internacional de grande instabilidade política e de crise econômica do Capitalismo ainda em desdobramento, criando um cenário desfavorável para o nosso comércio internacional”.

A questão recente de definição do salário mínimo também foi abordada por Patinhas durante sua intervenção. “O PCdoB apoiou as centrais sindicais ao propor o salário mínimo de R$580. Depois, junto às centrais, recuamos para a proposta de R$560. Após várias discussões, a bancada comunista considerou, por unanimidade, dar um voto de confiança a Dilma e confirmou o valor de R$ 545”, afirma. Além disso, Patinhas considera que foi uma grande vitória que o reajuste salarial tenha sido transformando em lei. “Tanto que a direita está questionando no Supremo Tribunal Federal a decisão”.

Política nacional
No âmbito político, o desafio do novo governo é manter unida uma base grande e heterogênea e trazer para perto os movimentos populares. “Apesar do otimismo, estamos vendo que o Governo sofre forte pressão de setores conservadores. Deveremos fortalecer os movimentos sociais para que, juntos, possamos ajudar a avançar nas mudanças”, ressalta.

Politicamente, o novo Governo convive com uma postura de hegemonia do PT. “Esta situação poderá criar uma reação contrária dos diversos partidos aliados e colocar em risco futuras alianças, inclusive já para as próximas eleições”, projeta o dirigente.

Patinhas avalia que a oposição vive uma crise profunda e busca, atabalhoadamente, a redefinição de sua linha programática e que está em marcha um processo de recomposição de forças com o desgarramento de setores da oposição para o bloco de apoio ao governo. O dirigente lembra que a própria senadora Kátia Abreu, do DEM, avalia que a oposição está na UTI. No Ceará, segundo o comunista, a “debandada” de prefeitos e vereadores da oposição só não é maior “por causa da pendência jurídica sobre a questão da perda ou não do mandato”.

Expostas todas essas questões, o dirigente questiona: Como o PCdoB vai agir diante dessas ações, com a oposição dividida, a hegemonia do PT, a campanha de desmoralização do Ministro dos Esportes, Orlando Silva? “Devemos manter a cabeça fria, agir com tranquilidade, agregar forças dentro do Governo e junto à sociedade e encontrar meios de fazer pressão no sentido de garantir avanço no Governo da Presidenta Dilma”.

Patinhas considera importante também reforçar os movimentos sociais nas suas diversas frentes e ainda ratificar a identidade do Partido. “Somos diferentes do PT. Não queremos ficar isolados e devemos agir numa frente unificada”.

Cenário local
Patinhas destacou o significado da reeleição de Cid Gomes para dar continuidade ao projeto em curso no Ceará, onde se destacam as obras estruturantes, capazes de colocar o estado num outro estágio de desenvolvimento. O PCdoB envidará todos os esforços em favor do êxito deste governo.

Desafios e tarefas do PCdoB: Projeto Eleitoral
Para o dirigente, os comunistas terão grandes desafios e tarefas para os próximos anos. Destaque para o projeto eleitoral de 2012, cujo debate teve início nesta reunião da direção estadual. Os comunistas pretendem assegurar a direção nas cidades onde os prefeitos são filiados ao Partido e também buscar eleger em outras cidades. Outra meta será ampliar o número atual de cerca de 50 vereadores no Estado.

Mereceu destaque a disputa em Fortaleza, onde o Partido avalia que deve trabalhar dentro da aliança partidária que apoia o governador Cid Gomes, construir um projeto eleitoral que possa apresentar um projeto comum para a cidade. O dirigente do PCdoB assegura que “os comunistas, que ajudaram a eleger duas vezes a prefeita Luizianne Lins e têm uma profunda ligação com a cidade, com suas lutas e aspirações, se sentem com legitimidade para apresentar um nome para a disputa que é o do senador Inácio Arruda”.

Neste ano, o PCdoB entrará novamente em processo de conferências municipais. É o momento de, oficialmente, iniciar as discussões junto aos comitês o projeto de 2012. “Deveremos instaurar uma comissão para debater o projeto eleitoral para 2012, definir tarefas e iniciar medidas concretas sobre articulações em Fortaleza e no Interior. Essa comissão visitará os diversos municípios, fará levantamentos e analisará possibilidades sobre o processo eleitoral que acontecerá no próximo ano”, informa Patinhas.

O dirigente ressalta que o projeto não fica restrito apenas à disputa de Prefeituras. “Cerca de 120 cidades do Ceará irão aumentar o número de Vereadores. Maracanaú, por exemplo, hoje conta com 13 vereadores e a partir do ano que vem terá 21. Em Fortaleza, serão 43. Nosso projeto ousado será aumentar também os parlamentares da nossa legenda”, acrescenta.

Fortalecer os movimentos sociais
Além de debater o projeto político para 2012, o PCdoB no Ceará também estará focado este ano no fortalecimento dos movimentos sociais nas suas diversas frentes. “A mobilização dos movimentos sociais não pode ficar só na teoria”, reforça Patinhas. Para o comunista, o movimento popular “tem que fazer luta”. “Não podemos ficar parados. Os estudantes de Sobral, que estão mobilizados em busca de professores, é exemplo disso. Precisamos nos inserir nessas lutas, articular com entidades estudantis, fortalecer a Federação de Bairros e Favelas e promover uma maior integração do PCdoB com essas frentes”, ratifica.

Comitês municipais
Durante o processo de conferências municipais, o PCdoB viverá uma fase de revolvimento no Partido. Patinhas reforça a importância do papel de todos durante este processo. “Durante as conferências que temos mais acesso à realidade de cada cidade. E é durante este processo que unimos nossa militância. Devemos encontrar um caminho para estruturar melhor nossos comitês, consolidar os distritais e as bases do Partido para com isso dar suporte a nossa militância o ano inteiro, e não só durante os períodos eleitorais”.

Organização partidária
Abel Rodrigues, Secretário Estadual de Organização, também falou na abertura da reunião do Comitê Estadual neste final de semana. No momento em que o PCdoB vive novo processo de conferências, o comunista alerta para a importância da reflexão sobre a estruturação do Partido. “Qual PCdoB queremos? De que Partido precisamos para atender as necessidades do país? O que esperamos do Partido com a aproximação do seu centenário em 2022?”, questiona.

Para Rodrigues, este é o momento de dar uma “sacudida” no Partido. Ele considera que é preciso olhar as conferências e encará-las com uma dimensão maior. “A escolha das novas direções deixará consequências, pois serão elas que não só nos conduzirão nos próximos dois anos, mas projetarão o que será o Partido do futuro”, avalia.

Abel ratifica que o processo de conferências é um momento de intenso debate no Partido. “Isso faz parte da nossa índole, do nosso DNA. Somos rebeldes por natureza e não podemos nos acomodar nunca. Sempre pensamos em ir além”.

Rodrigues reforça ainda que, durante o processo de conferências, devem ser enfrentados os problemas que surgem no Partido. “Eles são inevitáveis, são fruto do próprio crescimento das fileiras e das pressões sobre o caráter do nosso Partido em um momento estratégico de acumulação de forças. Não podemos é deixar de encará-los e muito menos considerá-los como questões naturais. É preciso enfrentar os problemas e tomar as medidas necessárias com sabedoria, amplitude e coragem”, reforça.

Sobre o processo, Abel cita duas tarefas principais: dar continuidade ao intenso trabalho de filiação partidária, abrindo as portas do PCdoB para novas e inúmeras filiações e investir pesado na formação dos novos militantes. “A orientação deve ser: abrir e formar. Não dá pra ficar patinando na formação. Este é um dever nosso para que isso não prejudique o crescimento político e ideológico do militante, nem permitamos que o Partido sofra descaracterização”, alerta o dirigente comunista.

O Partido vive uma certa crise de crescimento. Segundo Rodrigues, “aumentamos nossa militância, que cresceu mais que o trabalho ideológico que fizemos com ela. Devemos correr atrás do prejuízo e intensificar nossa ação na formação ideológica, com estudo, cursos e vida coletiva nos organismos partidários, em especial”.

Abel reforça ainda a importância de demarcar as fronteiras do PCdoB. Segundo o secretário, “somos um Partido igual aos demais, mas ao mesmo tempo somos diferentes, temos características próprias. Temos uma visão estratégica, em defesa de uma transformação social, atuamos permanentemente junto às massas e não só em períodos eleitorais, nossas fileiras têm caráter militante e unificadas em torno de uma missão transformadora”, ratifica.

De Fortaleza,
Carolina Campos

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