ESTADO DE ALERTA Moradores do Maciço de Baturité temem deslizamento

A previsão de chuvas fortes na região levanta o problema do aumento das áreas de risco e possíveis deslizamentos
Fortaleza. "Minha filha, não pode cair uma chuva que eu vou pra fora de casa, e se for de noite não durmo". O estado de alerta da dona Raimunda Paulino, de 76 anos, não é exagero. Moradora da Rua José Macêdo, em Pacoti, o perigo cerca a casa da aposentada pelos dois lados.


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Na frente passa um córrego que acumula lixo e mato. Transborda em dia de chuva. Atrás da casa, a menos de um metro, uma paredão de areia e pedra se eleva. "De vez em quando cai terra de cima. Eu fiz um banheirinho de placa de cimento que já está rachando. A pia tive que trocar outro dia porque quebrou com uma pedra", relata.

Em outros Municípios do Maciço de Baturité, o problema se repete. De geografia montanhosa, a região vem tendo um crescimento desordenado. As famílias pobres ocupam morros e margens de rios. E com o destaque turístico, o número de empreendimentos imobiliários vem crescendo, inclusive com condomínios de luxo.

A realidade de desmatamento e ocupações irregulares lembra a tragédia que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro. O risco este ano pode ser iminente, já que a Funceme indica, em seu último prognóstico, a possibilidade de áreas litorâneas e serranas do Estado sofrerem eventos extremos de chuva, como tempestades.

Obras irregulares
Em Baturité, mais uma casa começa a ser erguida no Bairro Vila Nova, na encosta do Morro dos Jesuítas. Mesmo com dois rompimentos de um cano da Cagece, a família de Linete Alves Moreno, de 30 anos, não pensa em sair dali. "Há dois anos, quando rompeu o cano pela primeira vez, tive que sair pela janela com meus dois filhos. Na época, eles [Cagece] alugaram uma casa, mas de todo jeito a gente teve que voltar. Agora rompeu de novo e até agora não consertaram".

Em Vila Nova, as casas se distribuem pela encosta e o Rio Aracoiaba vira quintal para os que habitam às margens. Quem mora embaixo do Morro dos Jesuítas não teme deslizamentos por ser uma formação rochosa, mas quem tem por cima morros de barro vive com medo.
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Já no trecho da CE-065, a distância entre o Centro de Guaramiranga e o Distrito do Forquilha é palmilhada por placas de imobiliárias e construções. Nos canteiros de obras, quase todas exibem a placa com o licenciamento da Semace, mas o número e o tamanho dos empreendimentos impressiona quem só via mata nativa ali.

Na sede do Município, o Conjunto Frei Domingos remete à imagem das favelas cariocas: morro íngreme, ruelas estreitas, casas quase umas sobre as outras. Em 2009, muitos tiveram que se abrigar em escolas por causa da chuva. Apesar de os moradores dizerem que choveu pouco, parte de um muro de contenção já cedeu.

Preocupação
As gestões municipais reconhecem o problema, mas alegam que não podem obrigar as pessoas a saírem de casa. Em Baturité, o secretário de Obras, João Barros Filho, diz que o órgão identificou cerca de 12 áreas de risco. "Fizemos projeto para a construção de novas casas, mas precisamos do apoio do Estado e da União". Enquanto isso, a fiscalização de obras será reforçada com quatro novos agentes.

Já em Guaramiranga, o secretário de Meio Ambiente, Getúlio dos Santos, afirma que desde 2009 a gestão ambiental é municipalizada. "Temos tomado todas as precauções, mas não dá para impedir as construções de antes de 2009. É o caso do Frei Domingos. Mas estamos fazendo inspeções desde dezembro e, a partir da semana que vem, vamos firmar termos de responsabilidade com os moradores que se recusarem a sair de casas condenadas", diz.

Em Pacoti, o chefe de gabinete da Prefeitura, Aldemir Marinho, disse que foram feitos dois muros para conter a encosta sobre a Rua José Macêdo. Ele também vai marcar uma reunião com representantes da Defesa Civil das cidades do Maciço para pensar um plano de prevenção às enchentes.
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Com relação ao rompimento do cano em Baturité, a assessoria de comunicação da Cagece informa que uma equipe técnica foi ao local e um estudo hídrico será realizado na região para levantar dados sobre o ocorrido. Após o estudo, providências serão tomadas para que o abastecimento seja normalizado.

Tábua de chuvas
Amontada 139mm

Aquiraz 107mm

Pentecoste 76.2mm

Eusébio 76mm

Miraíma 70.7mm

Pindoretama 70mm

Palahano 66mm

Jaguaruana 62.3mm

Aracoiaba 60mm

Itaitinga 60mm

Fonte: Funceme
MAIS INFORMAÇÕES 
Prefeitura Municipal de Baturité: (85) 3347. 1246/ Prefeitura de Guaramiranga: (85) 3321.1159/ Prefeitura de Pacoti: (85) 3325.1413

KAROLINE VIANAREPÓRTER

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