MAIS 0,5 PONTO PERCENTUAL BC eleva taxa Selic e indica mais aperto


Selic retoma o patamar de 11,25%, vigente em março de 2009. A decisão do colegiado foi unânime
Brasília. Na primeira reunião sob o comando de Alexandre Tombini, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Com o movimento, a Selic retoma o patamar de 11,25%, vigente em março de 2009, quando a política monetária estava em pleno processo de flexibilização por conta da crise internacional.Clique para Ampliar
A decisão do colegiado foi unânime, após uma longa reunião, que durou mais de três horas e meia. O comunicado do Copom destacou que a medida marca o início do processo de alta da Selic, "cujos efeitos, somados aos das ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas".
Interromper expectativas
A decisão reflete a necessidade de se interromper o movimento de elevação das expectativas inflacionárias para este ano, que, segundo a pesquisa Focus, já apontam o IPCA em 5,42% em 2011, significativamente acima do centro da meta de 4,5%. Vale lembrar que o índice oficial de inflação fechou o ano passado em 5,91%, o maior nível desde 2004. A elevação dos juros ontem interrompe uma sequência de três manutenções seguidas na Selic (nas reuniões de setembro, outubro e dezembro) em 10,75% ao ano.

Apesar de o Banco Central reconhecer em seus documentos mais recentes que parte relevante da alta recente da inflação decorre de choques de oferta, principalmente de alimentos, a decisão do Copom revela o temor de que essas altas de preços possam contaminar o restante da economia, em função de uma demanda interna aquecida. Além disso, busca transmitir um sinal de força do novo presidente da autoridade monetária, que ainda precisa consolidar uma reputação de que não vai transigir com a busca de manter a inflação na meta.
Aperto monetário
A elevação dos juros, de fato, dá sequência ao processo de aperto monetário iniciado em dezembro do ano passado, com a elevação dos depósitos compulsórios e do aperto das condições de crédito por meio de medidas macroprudenciais. Segundo cálculos de analistas de mercado e do próprio governo, tais medidas seriam equivalentes a uma elevação de 0,5 a 1 ponto porcentual na taxa Selic.

Trajetória
A aposta do mercado financeiro é que o juro voltará a subir nas duas próximas reuniões do Copom, nos dias 2 de março e 20 de abril, para encerrar o ano em 12,25%. A taxa só voltaria a cair no ano seguinte.
Além disso, o governo promete anunciar em fevereiro um corte no Orçamento que pode chegar a R$ 50 bilhões, outra medida para ajudar a segurar a demanda e a inflação no país.
A taxa básica determina o custo do dinheiro para os bancos e, por isso, serve de base para os juros dos empréstimos a empresas e consumidores, cuja taxa média está hoje próxima de 35% ao ano. A Selic é também um dos principais instrumentos que o BC tem para tentar controlar o ritmo de crescimento da economia e a inflação.

Seu bolso
A esperada elevação da Selic terá pouco impacto nos juros das operações de crédito para consumidores e empresas, segundo a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). A taxa média das operações para consumidores, atualmente em 6,79% ao mês, deve subir 0,04 ponto percentual (para 6,83%), após alta de 0,50 pp. Para pessoas físicas, os juros do cartão de crédito deve subir de 10,69% ao mês para 10,73%.
Opinião do especialista 
Brasil tem que ter equilíbrio na economia

A expectativa é que suba a taxa para 1,5% até o final do ano, analisando as projeções de mercado dos principais bancos mundiais. Apesar da visão de que a subida dos juros pode travar a economia, eu ainda acho que o maior problema é a inflação voltar. O crescimento do país é importante, mas ele tem que ser dosado de maneira que não seja maléfico. O país deve voltar ao equilíbrio de um crescimento sustentável, sem efeitos colaterais indesejáveis.
Delano MacedoDiretor do Ibef-CE
PARA INDÚSTRIADecisão do Copom foi "precipitada"
São Paulo/Fortaleza.
 As entidades que representam a indústria no País criticaram ontem a decisão do Copom de elevar em 0,5 ponto percentual a Selic. "A decisão do Copom é precipitada e compromete a capacidade de crescimento de longo prazo da economia", afirmou o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, em nota.
Segundo ele, os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em dezembro ainda não foram plenamente observados, o que ocorrerá nos próximos meses. "A elevação dos juros é o caminho mais fácil de controle de preços, porém o mais prejudicial", disse.
Entretanto, o presidente da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), Roberto Macêdo, acredita que esse aumento pode inibir quem pretende investir, mas é uma medida necessária para conter a inflação. "Eu acredito que apesar de ter um efeito de redução de investimento, de qualquer forma, contém a inflação", afirma.
Para o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, o aumento é um "erro". "Com decisões como essa, em 2011, o governo federal vai gastar R$ 200 bilhões de juros. Para a Saúde teremos apenas R$ 72 bilhões, para Educação teremos R$ 60 bilhões. 
Cada meio ponto percentual a mais na taxa Selic representa despesa pública anual adicional de R$ 9 bilhões", diz nota da Fiesp. "Se considerarmos os itens que afetaram a taxa de inflação: alimentação, despesas pessoais e serviços, percebemos que sua relação com a taxa Selic é quase nula. A taxa de juros afetará todos os setores e não apenas os de alta inflação".
A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), por sua vez, afirma que, no atual contexto externo de juros e crescimento baixos nos países desenvolvidos, o aumento estimula ainda mais a entrada de dólares no país.
Efeitos no comércio
A decisão do Copom de elevar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,50 ponto percentual (para 11,25% ao ano) retira do consumo das famílias e dos investimentos das empresas pelo menos R$ 3 bilhões neste ano, segundo cálculos da Federação do Comércio de São Paulo.
Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), Freitas Cordeiro, a medida é importante para conter a inflação, mas ele prevê que os efeitos da alta começarão a ser sentidos já no final do mês de fevereiro, principalmente com a falta de oferta de crédito, que, para ele, foi um dos fatores do desenvolvimento.
Freitas Cordeiro afirma que os efeitos "vêm aos poucos. Vai logo na indústria, que sofre de imediato, e depois reflete no segmento como um todo. É um remédio amargo, que talvez seja necessário".

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